Durante reunião de alto nível na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, para marcar os 30 anos da Quarta Conferência Mundial sobre a Mulher, realizada em Pequim, o arcebispo Paul Richard Gallagher, secretário do Vaticano para as Relações com os Estados e Organizações Internacionais, fez um balanço dos avanços obtidos e dos desafios ainda pendentes na promoção da igualdade de gênero.
O representante da Santa Sé recordou que, em 1995, a comunidade internacional se reuniu em Pequim para debater “questões importantes e urgentes relativas à dignidade da mulher e ao pleno gozo dos seus direitos fundamentais”. No entanto, sublinhou que, apesar dos progressos, muitos pontos da Declaração e da Plataforma de Ação de Pequim permanecem sem resposta.
Desafios persistentes
Entre as questões mais preocupantes, Dom Gallagher destacou a pobreza, a educação e a desigualdade econômica. “A extrema pobreza das mulheres, os obstáculos ao acesso à educação de qualidade e os baixos salários no mercado de trabalho impedem a plena realização de sua dignidade e do seu potencial”, afirmou.
Violência contra mulheres e meninas
O arcebispo deu ênfase à gravidade da violência de gênero, em diferentes contextos: “Seja no lar, no tráfico humano, em conflitos armados ou em crises humanitárias, trata-se de uma afronta à dignidade feminina e de uma grave injustiça.”
Ele alertou ainda para o uso da tecnologia como instrumento de novas formas de abuso, observando que o problema não se restringe à exploração sexual e ao tráfico. Citou práticas como a seleção pré-natal de sexo e o infanticídio feminino, que continuam a gerar milhões de “meninas desaparecidas” todos os anos. “A Santa Sé condena firmemente tais violências em todas as suas formas, que nunca podem ser aceitas”, acrescentou.
Questões de saúde
Outro ponto destacado foi a saúde materna. Embora os índices de mortalidade tenham diminuído desde 1990, o arcebispo alertou para a estagnação do progresso nos últimos anos. Defendeu maior acesso a cuidados pré-natais, a profissionais qualificados e a sistemas de saúde adequados, rejeitando, no entanto, o aborto como solução.
Para Dom Gallagher, a proteção da vida é “fundamento de todos os direitos humanos” e deve ser respeitada desde a concepção até a velhice.
Compromissos de Pequim
Encerrando seu discurso, o secretário do Vaticano apelou aos governos para que permaneçam fiéis aos compromissos assumidos em Pequim, lembrando que as prioridades da Declaração continuam atuais: combate à pobreza feminina, acesso à educação, eliminação da violência contra mulheres e meninas, promoção da paz e garantia de oportunidades no emprego, na terra, no capital e na tecnologia.
“A Santa Sé espera que, em vez de se dar atenção a questões controversas, os Estados priorizem o respeito e a promoção da dignidade que Deus concedeu a cada mulher”, concluiu.